Escolas sem celulares: menos conflitos e mais interação
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Quase seis meses após banimento de celulares no ambiente escolar, educadores apontam melhora na atenção dos alunos, mas advertem que lei não deve ser único mecanismo para prevenir uso
excessivo de plataformas viciantes.Todas as manhãs, as colegas Bruna Pinha e Yasmin Bispo, de 17 anos, depositam seus celulares em uma caixa identificada. De lá, os aparelhos só serão
retirados ao fim da última aula, seguindo o protocolo estabelecido pela escola onde cursam o 3º Ano do Ensino Médio. Apesar do incômodo de não poder registrar a rotina do último ano na
escola, elas veem reflexos positivos na lei que proíbe celulares nas escolas brasileiras. "No final das contas é bom ter este momento de desintoxicação; algumas pessoas ficavam como
zumbis no intervalo", relata Pinha. "Em algumas redes sociais dá até medo, depois que entro não consigo sair; o resultado é que passa o dia e você se sente um lixo porque não fez
nada do que devia", afirma a adolescente. Marcus Loures, diretor da escola em São Paulo onde elas estudam, vê melhoras na atenção, na interação entre alunos, e diminuição de conflitos
entre eles com os professores. Entretanto, ele pondera: "As leis geralmente suprem lacunas de um modo coercitivo, que não é o ideal. Talvez um dia a gente não precise de uma lei para
dizer que não pode usar o celular na escola, quando todo mundo estiver mais acostumado com a tecnologia e como lidar com ela, mas por enquanto precisamos dela". "Estancar a
sangria" A lei 15.100/2025, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 13 de janeiro deste ano, proíbe aos estudantes o uso de celular dentro da escola, em qualquer
momento. Ela permite apenas o uso de aparelhos para fins educativos. Debatido desde 2015 – antes mesmo da explosão das redes sociais–, o texto não define como as escolas devem restringir o
acesso aos celulares, de modo que cada escola acabou adotando a medida que julgou mais adequada. São apenas dois meses de vigência, mas com resultados já visíveis para especialistas e
profissionais da educação. Segundo fontes, certas escolas da capital paulista tiveram uma melhora média de até 20% nas notas quando comparadas com o primeiro bimestre de 2024. A experiência
do Rio de Janeiro, onde a proibição vigora desde 2024, reforça os resultados. Uma pesquisa da Secretaria Municipal de Educação carioca apontou que alunos do 9º ano tiveram 53% mais chances
de alcançar o nível adequado em matemática; no 8º ano, o aumento foi de 32%. A pesquisa também apontou queda nos casos de cyberbullying durante intervalos. Embora os relatos locais apontem
avanços, o Ministério da Educação (MEC) ressalta que, em âmbito nacional, ainda é cedo para mensurar impactos acadêmicos. Os ciclos de avaliação são longos, e os indicadores atuais não
permitem estabelecer causalidade, explica a pasta. O doutor em psicologia e especialista em educação digital Rodrigo Nejm avalia que a lei não pode ser o único mecanismo de prevenção do uso
excessivo de plataformas viciantes para crianças e adolescentes. Para ele, a legislação deve ser um ponto de partida para "estancar a sangria de ver uma geração tendo a saúde mental
afetada por plataformas sem regulação nem compromisso com o bem-estar do usuário". "O design manipulativo das redes sociais acaba gerando uma ansiedade, sobretudo nos mais jovens,
que é muito cruel", explica Nejm. O design manipulativo que Nejm cita é como os algoritmos das redes sociais, jogos online e plataformas de apostas são projetados para influenciar
comportamentos do usuário como o tempo de tela e engajamento assim que se abre o aplicativo. O Instituto Alana, onde Nejm atua, realizou em 2024 uma pesquisa que apontou que, para 75% dos
brasileiros, as crianças e adolescentes estão passando tempo demais na internet e redes sociais. E 90% acreditam que as empresas estão fazendo menos do que o suficiente para proteger os
jovens. Pela primeira vez na história, os atendimentos a casos de ansiedade em crianças e adolescentes pelo SUS já superam os de adultos. A taxa de pacientes de 10 a 14 anos atendidos pelo
transtorno é de 125,8 a cada 100 mil, e a de adolescentes, de 157 a cada 100 mil. Aluna de uma escola municipal da zona leste de São Paulo, Samantha de Paula, do 8º ano, conta passar todo o
tempo fora da escola navegando pelas redes. "Faço minhas tarefas de casa com uma mão só, mexendo no celular; se deixar, vou até as 4h da manhã navegando, porque não consigo dormir, sou
ansiosa", comenta. A colega do 9º ano Rayanne Carlani, por sua vez, admite passar 24 horas por dia, se permitirem, ao celular. A navegação pelas telas de rolagem infinitas das redes
sociais não cessou com a proibição recente, diz a jovem de 14 anos: "A gente vê escondido debaixo da mesa mesmo, ou vai ao banheiro para poder usar". Intervalos mais ativos Dois
pré-adolescentes do oitavo ano se abraçam no pátio da escola estadual durante o intervalo. A amizade, que parece antiga, surgiu recentemente. "Descobrimos que as pessoas são
legais", disse Miguel Lopes, de 12 anos. "Tem amigo meu que antes só ficava no celular, não falava com ninguém, e agora vem jogar com a gente", conta. O diretor, Vilso Giron,
celebra o aumento da interação dos alunos. "Víamos um paredão de alunos, cada um no seu celular e ninguém brincando; era desesperador, não se ouvia essa gritaria saudável que ouvimos
hoje", conta. Segundo ele, mesmo nas refeições o aparelho era uma companhia fixa. Para preencher o tempo livre, a gestão comprou mesas de pebolim e tênis de mesa, disponibilizou jogos
como xadrez e damas, e passou a abrir a quadra em todos os intervalos. Práticas semelhantes foram adotadas em outras escolas públicas e particulares. Observando o cotidiano de uma
tradicional escola particular de São Paulo, Ruth Nassiff se surpreendeu com o comportamento dos alunos quando voltaram às aulas neste ano. "Eles ficavam sem saber o que fazer; com 30
minutos de intervalo, questionavam se não havia mais nada para fazer, sofriam com a ociosidade", relata. Até que os jogos, de esportivos a cartas, passaram a ser estimulados.
"Ainda é necessário lidar com a competitividade, mas saindo da tela, e ampliando olhar", comenta a presidente da seção paulista da Sociedade Brasileira de Psicopedagogia (SBPp).
Membro do Movimento Desconecta, ela amparou com dados a campanha da entidade pela proibição dos aparelhos em estudos feitos na Universidade de Heidelberg. Lá, pesquisadores analisaram exames
de ressonância magnética de 48 participantes, dos quais 22 eram viciados em smartphones. Os resultados mostraram que aqueles com dependência apresentaram alterações físicas na forma e
tamanho de seus cérebros, especialmente na massa cinzenta. Nela estão as áreas que controlam as emoções, a memória, a tomada de decisões e o autocontrole. As ressonâncias mostraram uma
diminuição importante em áreas responsáveis pelas emoções e pelo processamento de memórias concretas e abstratas. Realidades distintas Diretora da escola municipal Padre Serafin Gutierrez,
Viviane Jordano relembra realidades diferentes da maioria dos alunos. "Recebi uma aluna do 9º ano desesperada para ligar para a mãe, porque quando ela saiu de casa, os pais discutiam e
sempre que isso acontece, a mãe apanha do pai", relembra. "Ela bateu na minha porta chorando e tremendo." Casos assim ilustram o que o pesquisador Alexandre Sayad chama de
defeitos da nova lei. Para ele, a proibição dos celulares é fruto da pressão da classe média alta urbana de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo para resolver problemas que as próprias
famílias não sabem como resolver. "A restrição pode ser positiva, principalmente ao estimular a socialização saudável, mas somente se andar de mãos dadas com educar esses jovens para
lidar com esses algoritmos viciantes", defende, ressaltando que não cabe apenas à escola e ao Estado lidar com o problema. "De certo modo também atesta a incompetência da família e
da escola, que se veem desconectados deste mundo digital inevitável", afirma. Sayad aponta que a sociedade em 2025 se vê diante de uma tempestade perfeita no campo da formação dos
jovens: Educação formal em descompasso com os interesses dos estudantes; universidade em descompasso com o mercado; profusão de problemas de saúde mental, fragilizada na pandemia e
pós-pandemia; e uma crise econômica global com desigualdade de renda se acirrando de modo crítico. Apesar da crítica, a proibição contou com o respaldo de boa parte da população. Um
levantamento promovido no ano passado pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados mostrou que 86% dos brasileiros são a favor de algum tipo de restrição ao uso de celular dentro das
escolas. Mais da metade, a favor da proibição total dos aparelhos. Uma a cada três pessoas acreditam que o uso do celular deve ser permitido apenas em atividades didáticas e pedagógicas, com
autorização prévia dos professores. Essa concordância é ainda maior entre pais e mães de crianças mais jovens. Um estudo recente da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) apontou que
25% dos adolescentes brasileiros estão viciados em acessar a internet por meio de diversos dispositivos, enquanto a pesquisa Tic Kids Online revelou que 63% as crianças e adolescentes entre
9 e 17 anos possuem perfil no Instagram, e 45% no TikTok. Mesmo aldeias indígenas encaram o problema do uso desenfreado das redes. Thiago Kumaru, professor da escola indígena da Aldeia
Solimões, no Pará, conta que após a instalação de uma antena Starlink na aldeia, jovens acabaram abandonado afazeres e o lazer usual. "Você via cinco, seis jovens a tarde e a noite
inteira em volta de um celular próximo da antena... Gente que deixou de jogar futebol, pescar, até mesmo cuidar da roça porque não largava o aparelho", lamenta. Dois anos atrás a
solução encontrada foi desligar a antena durante a noite, e determinar que alunos deixem os celulares na entrada da escola, se antecipando à lei federal. Como nos ambientes urbanos, ele se
vê aliviado com a redução dos conflitos e mudança até mesmo no linguajar, revelando que mesmo com críticas, pais e responsáveis veem vantagens na proibição até o momento. Autor: Gustavo
Basso Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente
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