Trump? "não conseguindo a gronelândia, vêm os açores. Não é impossível"
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Nem uma condenação, a recusa em aceitar o resultado eleitoral de 2020 ou o ataque ao Capitólio conseguiram impedir o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Afinal, e ao contrário da
sentença do antigo presidente norte-americano, Barack Obama, o democrata Joe Biden era, de facto, o intervalo na democracia daquele país. Mas como é que chegámos a este ponto? 'O
Colapso da Verdade', pela mão do analista de política norte-americana e geopolítica Germano Almeida, propõe-se precisamente a encontrar uma resposta à questão. Há diversas hipóteses,
mas uma coisa é certa: Trump dispõe, agora, de "uma agenda que foi legitimada pelo eleitorado de dinamitar o sistema". Tal como confessou o especialista ao Notícias ao Minuto, esta
versão mais autoritária, expansionista e errática de Trump "é muito pior e muito mais ameaçadora à democracia norte-americana". Isto porque o magnata assumiu, sem reservas,
colocar-se "acima das leis e do sistema democrático", tendo "uma interpretação ditatorial do poder presidencial, que é algo que era suposto que nos Estados Unidos não
acontecesse". Em última instância, o chefe de Estado norte-americano aparenta "querer acabar com a ordem liberal como a conhecíamos, feita de regras e de respeito pelas instruções
multilaterais". Que futuro nos espera? Muita gente viu o que aconteceu a 6 de janeiro de 2021 e não gostou, até criticou Trump e achou que aquilo foi uma situação grave para a
democracia. Mas, nos anos seguintes, continuou a ver que havia eleições, continuou a ter uma vida relativamente normal nos Estados Unidos e, portanto, achou que a democracia não acabou por
causa do ataque ao Capitólio Donald Trump regressou ao poder depois de um hiato de quatro anos. De facto, como escreveu, o intervalo era, afinal, Joe Biden. Mas como é que o magnata
conseguiu ser novamente eleito, tendo em conta todos os escândalos que o rodeiam – inclusive uma condenação? O livro tem, talvez, como principal objeto de análise essa grande perplexidade.
Diria que, há uns 10 anos, isso seria impossível e ficaríamos em choque, o que foi mais ou menos o que aconteceu no primeiro mandato. No primeiro mandato não tinha havido ainda a invasão do
Capitólio. Quando ocorre, a 6 de janeiro de 2021, pensei que seria o fim de Trump, mas vimos nos anos seguintes que não. Achávamos que o intervalo tinha sido Trump, em 2016; foi essa, aliás,
a expressão que recordo do ex-presidente Barack Obama, na manhã de 9 de novembro de 2016, horas depois de Trump ter ganhado, quando viu a equipa dele em choque. Quando Joe Biden ganhou, em
2020, parecia que tinha acontecido, mas não. Estive nos Estados Unidos em trabalho para o Now, na tomada de posse, e falei com alguns apoiantes de Trump. Fiquei com uma ideia que, confesso,
não tinha antes de ir. Ao contrário do que muitos de nós achamos aqui, é possível coabitar em muitos espíritos norte-americanos duas ideias que nos parecem contraditórias, mas que para eles
não são. Muita gente viu o que aconteceu a 6 de janeiro de 2021 e não gostou, até criticou Trump e achou que aquilo foi uma situação grave para a democracia. Mas, nos anos seguintes,
continuou a ver que havia eleições, continuou a ter uma vida relativamente normal nos Estados Unidos e, portanto, achou que a democracia não acabou por causa do ataque ao Capitólio. As
pessoas sentiam, por outro lado, que no primeiro mandato de Trump estavam melhor economicamente do que nos anos Biden. Isso até tem um fundo de verdade. No primeiro mandato de Trump, a
inflação estava muito mais baixa e, no pré-pandemia, não houve um conjunto de problemas que houve mais tarde, nomeadamente no pós-pandemia e na dificuldade que houve de compensar as cadeias
de distribuição, o que levou a um aumento muito grande da inflação, como não acontecia há décadas, e as consequências das sanções à Rússia, por causa da Ucrânia. Portanto, sim, no principal
dos anos Biden a inflação era muito mais alta do que era no primeiro mandato de Trump. Houve uma atribuição de grande culpa a Biden por parte do eleitorado norte-americano pela questão da
inflação e de achar que, com Trump, a economia estava melhor. Trump 2.0 é muito pior e muito mais ameaçador à democracia norte-americana do que o primeiro por aquela frase que está no
arranque do livro: "Aquele que salva o seu país não quebra qualquer lei", disse ele. É uma frase messiânica, de quem se coloca acima das leis e do sistema democrático, e tem uma
interpretação ditatorial do poder presidencial, que é algo que era suposto que nos Estados Unidos não acontecesse Vemos agora, mas só agora depois da eleição, embora já antecipasse isso
durante a campanha, que não, Trump não é melhor para a economia. A situação das tarifas foi um desastre completo, que ele está agora a tentar reverter, também dizendo que é um sucesso. Vemos
que nem para a economia é melhor, mas conseguiu passar essa ideia. Isso é uma parte essencial da questão, mas não é toda. Há aqui uma componente relativa às guerras culturais, à polarização
da sociedade, à forma, e daí o título 'O Colapso da Verdade'. Trump beneficiou de coisas que, embora não tivessem contacto nenhum com a realidade, conseguiu explorar: que seria
melhor para a economia, que defendia os Estados Unidos, que defendia o povo norte-americano perante a ameaça da globalização que se aproveita dos Estados Unidos. Os temas já estavam lá no
primeiro mandato – as tarifas, a defesa da América e a incomodidade de grande parte da sociedade norte-americana com a imigração – mas desta vez muito mais. Há uma promessa de deportação em
massa de imigrantes ilegais, há uma promessa de cumprimento da agenda independentemente do que os outros poderes acharem e, portanto, uma espécie de ataque aos outros poderes – aos
tribunais, aos media, às universidades, à oposição e até aos republicanos que tentem travar o presidente. Trump 2.0 é muito pior e muito mais ameaçador à democracia norte-americana do que o
primeiro por aquela frase que está no arranque do livro: "Aquele que salva o seu país não quebra qualquer lei", disse ele. É uma frase messiânica, de quem se coloca acima das leis
e do sistema democrático, e tem uma interpretação ditatorial do poder presidencial, que é algo que era suposto que nos Estados Unidos não acontecesse. De facto, a versão Trump 2.0 tem
provado ser bastante mais errática, imprevisível e autoritária do que a anterior. É este o verdadeiro Donald Trump? É este o verdadeiro Donald Trump, concordo, embora seja difícil levar isso
à letra. Qual é o verdadeiro Donald Trump? É aquele que acha que, a 2 de abril, impor tarifas de alcance global é a libertação dos Estados Unidos, pela libertação do trabalhador
norte-americano, ou que acha que fazer uma pausa de 90 dias e acordos com todos também é uma coisa muito boa? O que é que ele quer? Quer muito as tarifas e faz com isso um reset do comércio
internacional, ou quer um reset do reset que fez? Na verdade, pensando bem, não interessa. Trump é aquele líder que consegue, ao sabor do vento, dominar o ciclo, decretando uma grande
vitória. O que é o colapso da verdade? É esse. A verdade é que, depois de 2 de abril, houve o maior crash dos mercados e das bolsas na sequência de uma decisão presidencial norte-americana
em muitas décadas. Para a perspetiva dos seus eleitores, ele é o campeão que os defende perante o ataque da globalização. Ele tem uma agenda que foi legitimada pelo eleitorado de dinamitar o
sistema, naquilo que consideram ser o inimigo interno, que é o tal 'deep state'. Consideram que as agências federais, o complexo federal americano – que, na verdade, tem sido de
grande sucesso, com as principais agências de saúde pública a nível mundial e as melhores universidades – está dominado pelos esquerdistas, pelos democratas, pelos woke, pelos progressistas,
e que é preciso acabar com isso Sim, consegue moldar a verdade consoante os objetivos e a perceção que quer dar aos seus eleitores. Está aí o segredo, digamos assim. Completamente, sendo
que tem instrumentos hoje que não tinha no passado. No primeiro mandato eles não estavam à espera da ganhar. Basta ver, naquela noite eleitoral, como estavam quase em choque. Estavam com uma
cara que não era propriamente de festa. Não foi assim no segundo; no segundo já estavam à espera de ganhar. Trump já tinha sido presidente, já tinha conhecimento de um conjunto de coisas do
sistema e, agora, tem uma agenda para o destruir. Mas, atenção: a agenda está legitimada, não é obscura. Ele tem uma agenda que foi legitimada pelo eleitorado de dinamitar o sistema,
naquilo que consideram ser o inimigo interno, que é o tal 'deep state'. Consideram que as agências federais, o complexo federal americano – que, na verdade, tem sido de grande
sucesso, com as principais agências de saúde pública a nível mundial e as melhores universidades – está dominado pelos esquerdistas, pelos democratas, pelos woke, pelos progressistas, e que
é preciso acabar com isso. Dizem que a agenda de diversidade e inclusão é um ataque ao norte-americano comum e aos valores de bom senso, uma coisa inacreditável. A agenda de diversidade e
inclusão é um avanço civilizacional. Pode ter tido excessos, injustiças ou desequilíbrios, mas não é motivo para acabar com ela, é motivo para a corrigir. Mas não, deram instruções para
acabar com essa agenda, mesmo externamente, de tudo o que sejam instituições apoiadas pelo governo norte-americano. Houve universidades portuguesas que têm protocolos e recebem fundos no
âmbito da colaboração com os Estados Unidos que receberam instruções para acabar com isso, o que é uma coisa absolutamente inacreditável. Portanto, é uma agenda ideológica que se aproveita
da capacidade de Trump de ter influência junto do seu eleitorado. Neste momento, os democratas não têm o poder essencial; as duas câmaras do Congresso estão nos republicanos e os
republicanos estão a abdicar do seu poder legislativo importantíssimo. Estão numa apatia constrangedora a permitir que o presidente extravase os seus poderes e, além do poder executivo,
também assuma o poder legislativo. Isso é grave As condições políticas também são diferentes das do primeiro mandato, porque teve mais votos do que Kamala Harris. A nível nacional não teve
assim tantos mais votos, – teve mais dois milhões num universo de 150 milhões, a América voltou a ficar dividida –, mas foi uma vitória do ponto de vista da disputa eleitoral bastante clara,
porque ele ganhou nos estados decisivos todos. No primeiro mandato ganhou com menos votos do que Hillary Clinton e à tangente em três estados. É uma vitória do ponto de vista eleitoral
bastante mais robusta, sem dúvida, que lhe confere maior legitimidade. Agora, os democratas estão completamente zonzos com o que lhes aconteceu, depois de um processo presidencial muito
complicado, em que o presidente Biden desistiu tarde e Harris foi uma candidata sem primárias. Neste momento, os democratas não têm o poder essencial; as duas câmaras do Congresso estão nos
republicanos e os republicanos estão a abdicar do seu poder legislativo importantíssimo. Estão numa apatia constrangedora a permitir que o presidente extravase os seus poderes e, além do
poder executivo, também assuma o poder legislativo. Isso é grave. O Supremo – com seis juízes conservadores e três liberais, três deles nomeados por Trump – ainda não agiu num conjunto de
coisas que têm a ver com a proteção da Constituição e da lei. Não estou a dizer que o Supremo não vá defender a Constituição, mas isso é o momento da verdade, que ainda não chegou. Será que
o Supremo vai travar alguma medida altamente inconstitucional de Trump, seja pelas tarifas, seja o ataque aos imigrantes ou aos direitos individuais? Se isso acontecer, o presidente
desobedece ao Supremo? Entramos em território desconhecido. Não afasto essa hipótese, porque a Administração Trump tem desrespeitado algumas decisões de juízes de menor grau, e isso é
bastante preocupante. Do ponto de vista externo, a situação é muito pior hoje do que era há oito anos, no primeiro mandato, com uma guerra na Europa, com uma Rússia agressiva, com uma China
cada vez mais ascendente. A tudo isso, os Estados Unidos estão a reagir afastando-se da Europa, criticando a Europa, acabando com a Aliança Transatlântica ou, pelo menos, reduzindo-a e
enfraquecendo-a, tendo uma proximidade com a Rússia que é absolutamente desconcertante e parecendo querer acabar com a ordem liberal como a conhecíamos, feita de regras e de respeito pelas
instruções multilaterais. É um Trump que quer desfinanciar a ONU, reduzir a dissuasão da NATO e fazer com a China e com a Rússia uma espécie de entendimento de grandes potências. Tudo isto é
uma alteração completa do sistema internacional. Se salva o seu país, não está a quebrar lei nenhuma ao continuar como presidente, porque é isso que o povo quer. É essa a narrativa
populista, que passa por cima de leis e de direitos dos outros, pisa os poderes e o espaço dos outros, para alargar o seu poder. Depois de um caminho em que se percebeu que nas democracias
liberais era fundamental criar regras para um respeito democrático que levasse a que os diferentes poderes fossem respeitados, estamos num ambiente, na América e não só, em que muita gente
acha que o contrário é melhor Poderá a situação alterar-se com as eleições intercalares de novembro de 2026, se os republicanos deixarem de ter maioria nas duas câmaras do Congresso? Olhando
para a alternância democrática e para as maiorias curtas dos republicanos no Congresso, acho que isso é um cenário provável, mas não sabemos. As coisas mudaram tanto em cento e poucos dias
no ambiente democrático na América, que não sei, sinceramente, em que condições democráticas e políticas vão ocorrer as eleições para o Congresso. Temo por isso; temo que, se Trump perceber
que vai perder, tente criar uma situação em que não haja condições para haver eleições, não sei. Teme-se bastante por isso, mas também percebemos que foi nas crises que o sistema resistiu. O
problema é que o sistema até agora só resistiu porque regras não escritas foram sempre cumpridas: as pessoas que estão nas instituições fizeram as coisas certas. Depois do que aconteceu,
com Trump a ter falhado o golpe, quando perdeu em 2020, e perante o que se está a passar agora, com despedimentos em massa nas agências federais, não sabemos as consequências de terem posto
pessoas ligadas ao movimento MAGA em posições cruciais. Sabemos que, às vezes, as coisas não mudam assim tão rapidamente, mas eles estão a tentar fazer isso. Vamos ver em que condições
democráticas ocorrem também as presidenciais de 2028. Até lá, Trump já está a insinuar que pode concorrer a um terceiro mandato, mas não pode, é claríssimo na Emenda 22. De qualquer modo, o
tema vai ser lançado, e não sabemos com que desenvolvimentos. Sim, Trump já lançou a hipótese de um terceiro mandato mas, entretanto, voltou atrás. Tendo em conta a imprevisibilidade do
chefe de Estado norte-americano, há motivos para preocupação? Isso há, certamente. Se acho que se vai candidatar, acho que não, porque não pode. Mas essa ideia é muito interessante para
testar o sistema, ao dizer que o povo está do seu lado e que quer que continue. Volto à frase inicial do livro: "Aquele que salva o seu país não quebra qualquer lei." Ou seja, se
salva o seu país, não está a quebrar lei nenhuma ao continuar como presidente, porque é isso que o povo quer. É essa a narrativa populista, que passa por cima de leis e de direitos dos
outros, pisa os poderes e o espaço dos outros, para alargar o seu poder. Depois de um caminho em que se percebeu que nas democracias liberais era fundamental criar regras para um respeito
democrático que levasse a que os diferentes poderes fossem respeitados, estamos num ambiente, na América e não só, em que muita gente acha que o contrário é melhor, que o contrário é alargar
o seu poder, eliminando os direitos dos outros. As pessoas quase diariamente dizem-me, 'estamos quase na paz, Trump disse que vai haver um acordo'. Ele vai repetindo isso, o tempo
vai passando e não há acordo nenhum. Não há capacidade nenhuma, ele é um mediador fraquíssimo, incompetente, que está do lado do invasor, que não pressiona o invasor e que não protege o
invadido. Passado este tempo todo, não tem qualquer ideia de como é que vai conseguir a paz Como disse, a Administração Trump tem adotado uma postura cada vez mais combativa no que diz
respeito à Europa e aos aliados da NATO. Há mesmo hipótese de os Estados Unidos deixarem a Aliança Atlântica, ou as ameaças do presidente norte-americano são uma tática para atingir os seus
objetivos? É mais a segunda hipótese. O presidente não tem capacidade, num mandato, de tirar os Estados Unidos da NATO, porque precisava de dois terços do Senado e não os vai ter – nem
metade teria. Não me parece que ele vá sequer tentar. O que ele deverá fazer é reduzir a dissuasão da NATO, ao reduzir o peso dos Estados Unidos na NATO, deixando a Europa um pouco à deriva.
A Europa está numa espécie de esquizofrenia neste momento: por um lado, sabe que é preciso reagir à distância norte-americana, por outro lado está um bocado em negação, achando que Trump
vai mudar de ideias, o que é um absurdo. Há uma constância de Trump relativamente a isto. Sem os Estados Unidos, a NATO deixa de ser a NATO. É outra coisa e será outra coisa, a Europa criará
uma alternativa qualquer. A transferência do poder de comando e controlo dos Estados Unidos para a Europa, do ramo militar europeu da NATO, demora entre cinco a 10 anos. Portanto, não será
no mandato de Trump que saberemos a resposta a isso. Creio que, nos próximos anos, o que vai acontecer é uma redução da influência e da liderança norte-americana na NATO, com consequências
do ponto de vista do financiamento. Aquilo que vai acontecer já a seguir à cimeira da NATO, que vai ser já em junho, em Haia, é uma negociação entre os norte-americanos e a Europa, no
sentido de os norte-americanos começarem faseadamente a retirar as tropas de dissuasão que têm na Europa, que são mais de 80 mil, em 31 bases, em países como a Alemanha, a Roménia e a
Polónia, sobretudo. Isso foi verbalizado há dias por Matthew Whitaker, que é um embaixador dos Estados Unidos na NATO, numa conferência na Estónia. A ligação a Vladimir Putin também é cada
vez mais evidente. Em que pé é que fica a Ucrânia e as negociações de paz, uma vez que a balança pende para a Rússia com o apoio dos Estados Unidos? E a Europa, como será afetada? Isso é um
exemplo de como Trump explora e se aproveita da falta de memória e de atenção das pessoas. As pessoas quase diariamente dizem-me, 'estamos quase na paz, Trump disse que vai haver um
acordo'. Ele vai repetindo isso, o tempo vai passando e não há acordo nenhum. Não há capacidade nenhuma, ele é um mediador fraquíssimo, incompetente, que está do lado do invasor, que
não pressiona o invasor e que não protege o invadido. Passado este tempo todo, não tem qualquer ideia de como é que vai conseguir a paz e, no entanto, vai dizendo que está tudo a correr
muito bem, que foi uma conversa fantástica, e que o cessar-fogo está quase. Quem é que se aproveita disso? Putin, que entra nesse jogo e que, na verdade, está a preparar-se para mais dois
anos de guerra, pelo menos. Refez o plano de defesa da Rússia, que acabava este ano, para mais dois anos. Olhando para os mapas, víamos que, há três anos e pouco, a Rússia ocupava mais da
Ucrânia do que hoje. Não há sucesso militar algum da Rússia na Ucrânia; o que há é o sucesso político de se aproveitar que Trump voltou à Casa Branca. Portanto, a mediação de Trump está a
falhar completamente mas, mais uma vez, pelo colapso da verdade ele consegue pôr muita gente em muitos países europeus a acreditar que a paz está quase aí. Não, não está nada. 'O
Colapso da Verdade'© Ideias de Ler, Grupo Porto Editora Os Estados Unidos também têm sido cúmplices da ofensiva israelita em Gaza. Que futuro antevê neste aspeto? Para mim é a maior
interrogação. Se me parece mais ou menos claro que o futuro da Ucrânia será muito difícil e que não contará com a defesa norte-americana, – parece-me claro que os Estados Unidos vão deixar a
Ucrânia cair –, no caso de Gaza… Costumo dizer que, quando nascemos, o conflito israelo-palestiniano já tinha várias décadas e, quando morrermos, ainda vai continuar. No caso da Ucrânia, a
situação é iminente: vai ou não ser invadida pela Rússia? Vai ou não conseguir entrar na União Europeia? Para quem ainda não percebeu, está ali um foco de terrorismo nas próximas décadas que
é complicado, mas a posição de Trump quanto a Gaza é muito errática. Parece haver um alinhamento com o governo de Benjamin Netanyahu, um suposto projeto para Gaza, planos absolutamente
inacreditáveis sobre expulsar os palestinianos de Gaza, mandá-los para a Líbia… Por outro lado, há momentos, como é o atual, em que parece haver alguma crítica do governo de Trump em relação
ao comportamento de Netanyahu. Creio que o objetivo imediato de Netanyahu é ocupar Gaza e creio que Trump não tem objetivo nenhum para Gaza. Trump tem dois grandes objetivos para o Médio
Oriente: um vimos na semana passada, são os negócios com países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, e o outro é, por via um pouco disso também, conseguir travar o Irão
nuclear. Há negociações neste momento, ainda muito inócuas, entre os Estados Unidos e o Irão, com mediação de Omã e de Itália, e há essa ideia de que é preciso travar isso. A partir de certo
ponto, essas duas coisas vão juntar-se: os negócios de Trump com os sauditas e com os árabes, e o nuclear. Não é só para os Estados Unidos e para Israel que é fundamental travar o Irão
nuclear, para esses países também é. Parece-me que o único lado positivo do primeiro mandato de Trump foram os Acordos de Abraão, que foram uma aproximação de Israel com as monarquias árabes
da região. Parece-me que ele está a tentar retomar esse espírito. Se vem daí a única coisa boa de Trump neste segundo mandato, pode ser que sim. Surgiu, entretanto, uma nova guerra
comercial, pelas mãos de Trump. A China e a Rússia é que sairão vencedoras? Sem dúvida. A China e a Rússia são as grandes vencedoras disto. Os Estados Unidos eram, de longe, a grande
potência há uns anos, e com esta liderança estão a enfraquecer-se, apesar de a retórica ser que estão a ficar mais fortes. A China aproveita a abdicação da liderança norte-americana; a
potência dominante deixou de querer dominar. Quando Trump tem uma retórica agressiva com os seus aliados, relativamente às tarifas e a outras questões, está a desfazer alianças, em que os
Estados Unidos tinham um grande protagonismo e superioridade, com vantagem para os norte-americanos. Acham que os outros estavam a aproveitar-se dos Estados Unidos, mas não; os Estados
Unidos são os grandes beneficiários desse sistema de alianças. Quem se aproveita é a China, que se posiciona com a União Europeia e com as democracias asiáticas que têm medo da China e
queriam ter uma relação com os Estados Unidos. O próprio problema interno da sociedade norte-americana ajuda a China a aproximar-se dos Estados Unidos. A Rússia, então, é uma
artificialidade. A Rússia nem no Top 10 das maiores economias está e é, de longe, o maior país do mundo. A Rússia tem um problema demográfico, tem um problema de grande dispersão e
desequilíbrio, tem as elites de São Petersburgo e Moscovo, é mais forte na sua ponta ocidental e tem grandes problemas na sua ponta oriental. A Rússia estava a perder centralidade com o
aumento da competição estratégica Estados Unidos - China, que é a grande questão real, e ganhou centralidade pelo pior motivo possível, que é a agressão. A agressão russa na Ucrânia fez a
Rússia de Putin ganhar centralidade. Em vez de os Estados Unidos travarem isso, que é o que Biden estava a fazer – e bem, embora não de forma suficiente –, com Trump, escolheram o lado
russo. É uma coisa absolutamente inacreditável. Faz-nos questionar o que é que Trump estará a pensar. Parece que encara a presidência como um cargo empresarial – possivelmente acreditou que
as tarifas pudessem resultar – e está a levar os Estados Unidos por um caminho que está a beneficiar outras "empresas", digamos assim. Não sei se ele achou que as tarifas iam
resultar, porque no primeiro mandato já se tinha percebido que não resultaram. Em muito menor grau, as tarifas geraram desemprego e uma redução da relação das empresas norte-americanas com
as outras. Tem um conselheiro, que é o Peter Navarro, que de forma errada o levou a isso. O que é que, entretanto, aconteceu? Trump afastou Peter Navarro das negociações e pôs uma pessoa
mais racional, o Scott Bessent, secretário do Tesouro, que deu aos chineses como argumento principal para aquilo correr bem não estar o Peter Navarro. Quando é a própria Administração Trump
a admitir que o problema está na Administração Trump, está tudo dito. A Gronelândia, com a Islândia – controlada na prática pelos Estados Unidos, porque não tem um exército – e as ilhas
britânicas fazem o chamado 'geocap', um fecho do acesso ao Atlântico Norte. Não conseguindo a Gronelândia, a seguir nessa projeção vêm os Açores, ou uma parte dos Açores. Não quer
dizer que isso vá levantar-se, mas não é impossível que venha a acontecer em determinada altura Entretanto, Elon Musk, que era uma figura próxima de Trump, também acabou por se afastar.
Ainda assim, esta inclusão no governo poderá ser não só uma mostra do lado de empresário de Trump, mas também uma tentativa de controlar e proliferar a propagação de desinformação nas redes
sociais, em particular no X (Twitter)? Sim, Musk já fez o seu papel. Foi fundamental para a vitória de Trump a nível eleitoral; há um 'plus' eleitoral de Trump com Musk. No
primeiro mandato ele não tinha essa área de Silicon Valley, dos 'tech bros', que têm um perfil completamente diferente do eleitorado de Trump pouco qualificado, mais velho, do
Midwest. Juntou isso e juntou o movimento Kennedy, na questão do 'Make America Healthy Again', com algum negacionismo pós-pandemia, com as vacinas, com algum eleitorado mais
feminino que Trump não tinha e que é muito atreito à alimentação saudável, e a alguns temas de saúde mais polémicos. Agora, teve uma plataforma mais larga do que tinha no primeiro mandato.
Portanto, a importância de Musk, por um lado, foi eleitoral. Por outro lado, foi financeira e, nos primeiros 100 dias, foi o elemento que, através do DOGE, dinamitou o sistema federal, com
despedimentos em massa, reduções e cortes. Era esse elemento distrator que conseguia canalizar as críticas e o ódio para Musk, o que acabou por poupar o presidente. Acho que foi por aí, e
estava a pagar um favor. Mas percebi logo que Musk, pelo seu perfil e por ter mais que fazer, nunca na vida quereria estar quatro anos num governo. A saída de Musk é relativamente
previsível. Como explicou no livro, a máxima 'Make America Great Again' adquiriu um cariz expansionista neste segundo mandato, virado para a Gronelândia, Canadá e Canal do Panamá,
mas também para a alteração do nome do Golfo do México, por exemplo. E os Açores, onde ficam nesta conjetura? É uma boa questão. Para já não ficam, e ainda bem. Mas é preciso perceber que,
tendo em conta a lógica e o interesse de Trump na Gronelândia, não é impossível que isso vá acontecer. A Gronelândia tem, de facto, um interesse estratégico muito importante, mas esse
interesse estratégico é de defesa do Atlântico Norte. A Gronelândia, com a Islândia – controlada na prática pelos Estados Unidos, porque não tem um exército – e as ilhas britânicas fazem o
chamado 'geocap', um fecho do acesso ao Atlântico Norte. Não conseguindo a Gronelândia, a seguir nessa projeção vêm os Açores, ou uma parte dos Açores. Não quer dizer que isso vá
levantar-se, mas não é impossível que venha a acontecer em determinada altura. Tivemos há dias eleições legislativas antecipadas, nas quais o partido Chega cresceu exponencialmente. É este
também um dos efeitos da eleição e legitimação de presidentes como Donald Trump? Sim. Até agora, Portugal parecia um pouco imune, mas entendo o resultado do Chega – ou uma parte dele –
relacionado com esse efeito de contágio, que está a afetar toda a Europa. No entanto, acho que não é a principal razão. O resultado do Chega tem algumas explicações também ao nível
geográfico. Se olharmos para a geografia do que é a grande expressão em Portugal entre o litoral e o interior, a desertificação do interior, o sentimento no interior de que o Estado falhou e
os deixou completamente de fora, também algum efeito de protesto por termos três eleições em três anos… Acho que isso pesou mais, sinceramente, do que propriamente o efeito Trump. Até
porque, neste momento, olhando para o que aconteceu no Canadá ou na Austrália, o efeito Trump pós-eleições é ao contrário, é uma penalização de quem se sente próximo. Mas, para a afirmação
do Chega, sem dúvida que a ligação e uma certa cartilha próxima está lá, embora não assumam isso completamente. O Chega e André Ventura têm uma noção muito clara do que é o sentimento geral
em Portugal. Ele sabe que Trump não é uma figura popular em Portugal. Leia Também: Trump pressiona Republicanos no Congresso: "Uma reunião cheia de amor"
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