Dilmo berger, irmão do ex-prefeito de florianópolis, é um dos indiciados pela operação trojan

Eduardo Valente/ND Walter Watanabe, da Deic, delegado responsável pela Operação Trojan O _Notícias do Dia_ teve acesso ao relatório final do inquérito policial da Operação Trojan, que

resultou no indiciamento de pelo menos 24 pessoas envolvidas em fraudes e inserção de dados falsos no STM (Sistema Tributário Municipal) da Prefeitura de Florianópolis. Foram identificados,

principalmente, os crimes de estelionato e peculato eletrônico no inquérito aberto pela Polícia Civil. Nos crimes de peculato eletrônico, funcionário público inseria dados falsos no sistema

que resultavam ilegalmente na redução das alíquotas de impostos municipais ou até na exclusão total dos tributos ou dívidas com o município. Esse é o caso que envolve Dilmo Berger, irmão do

senador Dário Berger (PMDB), prefeitoda Capital na época da fraude. O empresário foi indiciado pela Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais) pelos crimes de corrupção ativa,

peculato eletrônico e associação criminosa, ou formação de quadrilha. A fraude envolveu os servidores Rogério Arlindo Martins e João Alexandre Piassini Silverio e os ex-servidores

comissionados Sandro Ricardo Fernandes e Breno Pockszevnicki. Como já revelou o ND, a inclusão irregular no STM de uma casa de 49 m² que não existia no terreno pertencente a Dilmo, no bairro

de Coqueiros, alterou a alíquota de calculo para cobrança de imposto do imóvel de 2% para 0,5%. Segundo o inquérito, Breno determinou a inserção da casa e Sandro, como chefe de Breno, teria

coordenado o crime. Rogério teria cedido a sua senha para João Alexandre executar a alteração. Sandro era o então secretário municipal da Receita. Breno ocupava o cargo de gerente

administrativo financeiro da Secretaria da Receita. João Alexandre, ex-secretário municipal da Ciência e Tecnologia, e ex-diretor da Dívida Ativa da Prefeitura de Florianópolis, está lotado

atualmente no gabinete da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável, segundo o Portal da Transparência da prefeitura. No segundo depoimento na Deic, no dia 6 de março

deste ano, João Alexandre confessou que por meio da senha de Rogério inseriu a casa no terreno de Dilmo a pedido de Breno. O argumento de Breno, segundo João Alexandre, era que o processo de

revisão de IPTU do irmão do então prefeito estava parado há muito tempo. Pela confissão, o servidor não foi relacionado entre os pedidos de prisão da Operação Trojan. TROCA DE MENSAGENS

Além da confissão de João Alexandre Piassini Silverio, a investigação da Deic conseguiu recuperar duas mensagens no celular de Sandro Ricardo Fernandes que foram determinantes para o

indiciamento de Dilmo Berger. Na primeira delas, em 22 de junho de 2012, Sandro envia uma mensagem para Dilmo: “Preciso que vc (sic) assine alguns documentos de acordo. Posso enviá-los pra

vc? O prazo é segunda-feira, dia 25, inclusive de pagamento”. Após destacar o texto da mensagem, o delegado Walter Watanabe, responsável pela Operação Trojan, completa: “As provas

documentais corroboradas no laudo pericial demonstram que Dilmo faltou com a verdade ao tentar afastar sua responsabilidade criminal em relação à redução ilícita do imposto predial. Não há

dúvidas que Dilmo influenciou Sandro e por consequência Breno a alterarem ilegalmente o sistema informatizado”. Na segunda mensagem de Sandro, apreendida pela Deic do dia 14 de maio de 2012,

ele cobra um favor do empresário: “Por favor, não esquece de minha filha. Grato. Sandro Fernandes”. A inserção dos dados não teria sido feita em troca de propina, mas deste favor para a

filha de Sandro, segundo a investigação. “Não se vislumbra que houve pagamento de vantagem pecuniária para praticar o crime, porém acredita-se que tal conduta foi realizada em troca de

favor, como demonstrado acima”, informa o relatório final do inquérito. “Os crimes contra a administração pública, via de regra, são praticados às escuras, não deixando vestígios. Assim,

diante da redução ilegal do posto, não é crível que Dilmo no tenha qualquer responsabilidade criminal nas condutas praticadas”, diz Watanabe. Os quatros servidores envolvidos no caso também

foram indiciados pelos mesmos crimes que o empresário e irmão do senador do PMDB. OUTRO LADO Rogério Arlindo Martins alega que foi induzido a favorecer Dilmo Berger na manobra armada pelos

secretários e o diretor, pois achava que se tratava de uma simulação, como informou João Alexandre Piassini Silverio. “Vou ao fim do mundo para buscar, sou um cara de caráter e honestidade

acima de tudo. Tudo que conquistei foi com muita luta e honestidade”, disse. O advogado Claudio Gastão da Rosa Filho, defensor de Breno Pockszevnicki e Sandro Ricardo Fernandes, informou que

ambos prestaram informações à polícia e que ainda não existe acusação formal contra seus clientes. “Se forem acusados de alguma coisa, o que ainda não existe, vão se defender e mostrar que

isso não é verdade”, afirmou Gastão. “O delegado tentou uma delação premiada forçada que não condiz com os fatos. Vamos aguardar o caso na Justiça”, completou. O advogado do empresário Dilmo

Berger, Bruno Condini, disse ontem que ainda não teve acesso ao relatório final da Deic e que não iria se pronunciar sem ter acesso oficial das acusações do seu cliente. Da mesma maneira, o

defensor de João Alexandre Piassini Silverio, Alex Cruz Hernandes, preferiu não se manifestar alegando que ainda não estudou todo o processo.