Com alma e talento de artistas

Tirar 30 vencedores de 11.342 trabalhos inscritos e apontá-los como a nata da produtividade criativa amadora dos maiores de 60 anos. Dividida em seis categorias – Literatura, Artes

Plásticas, Música Vocal, Contação de Histórias, Monografia e Projetos Exemplares –, a 10ª edição do concurso Talentos da Maturidade, promovido pelo Banco Real, premiou criações e criaturas.

A missão da escolha dos finalistas coube a 24 jurados, todos referência nas suas áreas de atuação, que participaram da cerimônia de premiação na última terça-feira, em Recife, capital

pernambucana. A lista de finalistas da edição do aniversário de dez anos teve todas as fórmulas. Gente que tentou o prêmio pela primeira vez, e – talento de principiante –, foi escolhida,

como o dentista aposentado Antônio de Almeida Silva Filho, de 75 anos, de São Carlos, interior paulista. Um dos cinco vencedores entre os contadores de histórias –número escolhido para cada

categoria –, Almeida disse estar surpreso em ter reconhecida uma qualidade que não sabia ter. "Mas ele sempre foi muito mentiroso", brinca a esposa, Maria Áuria. O casal freqüenta,

entre outras atividades, a Universidade Aberta para a Terceira Idade, onde Almeida foi incentivado a participar do concurso. "Me inscrevi em duas categorias. Tentei também em

Literatura." O prêmio ainda trouxe lições ao veterano: "Descobri que coisas acontecem depois dos 75 anos. Estou cheio de planos". Teve aquele também que só levou o troféu – e

o cheque de R$ 7 mil, entregue a cada um dos vencedores das cinco das categorias – depois de tentar ano após ano. O mineiro Gláucio Nogueira Bustamante ganhou um dos prêmios em Artes

Plásticas, com uma obra reeditada, já apresentada ao concurso, cinco anos atrás. "Reduzi o apelo dramático de um auto-retrato de um safenado, tirando alguns hematomas da primeira

versão", ensina. Nas quatro categorias artísticas, a idade mínima para inscrição era 60 anos. Elas concentraram o maior volume de inscritos e, a cada ano, revelam talentos descobertos

na terceira idade ou que ganharam nesta fase da vida a oportunidade ideal para serem revelados. "Essa evolução mostra como o perfil do idoso mudou ao longo dos anos. Ele está mais

ativo, mais produtivo e acredita nesse potencial criativo", avalia a psicóloga Laura Machado, especializada em gerontologia e consultora do Banco Real. A cada edição, o concurso procura

reinventar-se e trazer à baila o tema idoso como pensata para a sociedade. Há dez anos, a inatividade do maior de 60 anos era a preocupação. "Agora, a idéia é incentivar ações que

façam do idoso um empreendedor, e por outro lado, também assistam aos mais frágeis, carentes de assistência", diz Laura. Por isso, a provocação na escolha do tema na monografia, que

abordou a comunicação da mídia com o idoso. E também a premiação diferenciada na categoria Projetos Exemplares. Este ano, além de reconhecer a prática, o banco vai investir até R$ 100 mil

por ano nos projetos escolhidos, para garantir a sustentabilidade da ação. De acordo com Fernando Martins, diretor corporativo de marca e comunicação do Banco Real/Grupo Santander, dizer que

a última década foi recheada de histórias marcantes seria simplificar demais a grandiosidade do evento. "A questão do idoso é de relevância nacional. O que fazemos aqui é respeitar o

mais velho, reconhecendo que talento não tem idade". A jornalista viajou a convite da organização do evento.