Jeitinho

Há algumas assertivas sobre uma pretensa índole do brasileiro que podem ser evocadas diante da Súmula Vinculante nº 13 do STF, que definiu o nepotismo como afronta à Constituição. Uma delas

é: leis foram feitas para ser violadas; outra, eternizada pelo meia Gerson, é a de que é preciso levar vantagem em tudo; e a terceira é de que somos o país do "jeitinho". Pois bem:

os políticos e governantes estão unindo as três assertivas para tornar letra morta a sábia e indiscutível decisão do STF. Isto é, procuram um "jeitinho" para violar o espírito da

Súmula e, assim, não perder as vantagens. No Senado, já se disse que a medida precisaria ser "flexibilizada" por lei regulamentadora, de modo a que houvesse uma "cota"

para a nomeação de parentes. Aqui, no Paraná, nem em lei se pensou e nem se esperou que o mandamento do STF fosse publicado em Diário Oficial. De um dia para o outro, o governador

interpretou a Súmula segundo a conveniência da família e, de súbito, promoveu por decreto mulher e irmão que ocupavam outras funções para cargos de secretários especiais – categoria

supostamente excetuada pelo Supremo da regra geral que proíbe nomear parentes. Foi o "jeitinho" achado para violar a lei e manter as vantagens. Um detalhe: as três assertivas

guardam em comum o mesmo defeito – são amorais.