G indica

_DVD 1_ CAPITU Brasil, 2008. Direção de Luiz Fernando Carvalho. Edição dupla. Globo Marcas/Som Livre. Classificação indicativa: livre. Preço médio: R$ 69,90 Capitu conseguiu o que muitos

julgavam im­­possível: adaptar Dom Casmurro para um meio au­­diovisual. O diretor Luiz Fer­­nando Carvalho (do filme Lavou­­ra Arcaica) em­­presta da ópera e do teatro, so­­bretudo do

burlesco e do grand guignol (típicos do fim do século 19), referências visuais e de interpretação. O resultado incomoda, é verdade. A artificialidade e o exagero peculiares a es­­sas

linguagens, hibridados a re­­ferências pop bem contemporâneas, provocam estranhamen­­to no espectador, habituado à abordagem pseudonaturalista das telenovelas. Mas, ao manter quase intacta a

prosa ímpar de Ma­­chado de Assis, a história da obsessão de Bentinho por sua Capitu consegue decolar em meio a uma concepção estética que se aproxima do sonho. Se Maria Fernanda Cândido

funciona bem como "modelo" (ou cabide) para a personagem-título na fase adulta, a revelação Letícia Persiles brilha na encarnação jovem da personagem. (PC) _DVD 2_ UM CONTO DE

NATAL França, 2008. Direção de Arnaud Desplechin. Jaguar Vídeo. Classificação indicativa: 14 anos. Apenas para locação. O Natal obriga pessoas que evitam se cruzar o ano todo a

confraternizar – pelo bem da família. O filme de Arnaud Desple­­chin (Reis e Rainha) utiliza a data cristã como clímax da tensa relação entre os membros de uma típica família francesa. O

casal Abel (Jean-Paul Roussillon) e Junon (Catherine Deneuve) reúne os filhos à mesa natalina após descobrir que Junon tem uma doença degenerativa e precisa de um transplante de medula. O

encontro desnuda problemas como a relação entre mãe e filhos, o autoritarismo da primogênita Elizabeth (Anne Con­signy) e o cinismo de Henri (Mathieu Al­­maric, de O Es­­cafandro e a

Borbo­­leta). Neste acer­­to de contas, cada personagem tem a chance de narrar ao espectador, por vezes olhando diretamente para a câmera, suas próprias desventuras, o que dá à história boas

doses de humor e humanidade. Um grande filme que merece ser visto. (AV) _Livro_ MACBETH William Shakespeare, tradução de Manuel Bandeira. Cosac Naify, 208 págs., R$ 49. O texto clássico (e

portanto atemporal) de William Shakes­peare, ambientado no reino escocês, ganha uma reedição cuidada, com qualidade gráfica e comentário crítico. O poeta Manuel Ban­­deira, para quem Macbeth

é "se­­não a mais profunda, a mais sinistra e sanguinária tragédia do au­­tor", empresta sua verve à tradução, como havia feito antes com O Círculo de Giz Caucasiano, de Brecht, e

Maria Stuart, de Schiller. As páginas são ilustradas pelo ensaio fotográfico de Emidio Lui­­si, com cenas do espetáculo Trono de Sangue, dirigido por Antu­­nes Filho em 1992. No fim do

volume, reúnem-se imagens de montagens históricas, com Sarah Ber­­nhardt no papel de Lady Mac­­beth e Jean Vilar como o ma­­ri­­do. Fechando o livro, a trama de­­fla­­grada pela predição de

três bruxas é analisada em ensaio leve do também poeta W. H. Auden, pu­­blicado originalmente pela Uni­­versidade de Princeton, no qual se debruça sobre os três te­­mas-chave que identifica

na tragédia: o assassinato, a natureza do tempo e o des­tino. (LR) _CD1_ FARM Dinosaur Jr. Jagjaguwar. Importado. Preço médio: US$: 12. De volta aos palcos e estúdios há quatro anos, após

oito de separação, o trio norte-americano Dinosaur Jr. continua provando merecer seu posto de uma das mais importantes bandas do rock independente de todos os tempos em Farm, nono título de

sua discografia e segundo com a formação original desde 1988. Se, sozinho, o guitarrista e vocalista J. Mascis é capaz de compor discos inteiros de melodias irresistíveis, ao lado de Lou

Barlow (baixo) e Murph (bateria), sua inspiração parece triplicar. Refrões pop, peso na medida e distorções de todos os timbres continuam a marcar as canções do trio, a começar pela ótima

fai­xa de abertura "Pieces". Desta­que ainda para a graciosidade de "See You" e a sujeira das guitarras de "I Want You to Know". Mas é com a contagiante

"Over It" que a química entre os três integrantes transparece, não deixando dúvidas quanto à relevância da formação e de suas canções inigualáveis. (JG) _CD 2_ WEST RYDER PAUPER

LUNATIC ASYLUM Kasabian. Sony/BMG. Preço médio R$ 23. Depois do primeiro disco (Kasabian, 2004) – talvez um dos fundamentais do rock dos anos 2000 – e da escorregada no decepcionante Empire

(2006), o segundo álbum, os ingleses do Kasabian acertaram a mão novamente em West Ryder Pauper Lunatic Asylum. A banda favorita dos irmãos Gallagher – sempre de­pois dos Beatles – soa menos

pretensiosa e mais dançante. O disco de nome quilométrico traz uma mistura coesa de nuances eletrônicas, violões acústicos e psicodelia pop. É do tipo que cresce a cada audição. A voz de

Tom Meighan ganha coro quase celestial em várias faixas, que se contrapõem a pedaços musicais minimalistas como "Swar­figa", de pouco mais de dois minutos. E tudo faz sentido. Há

faixas realmente fantásticas como "Vlad The Impaler" e as dançantes "Fast Fuzse" e "Underdog". (CC) _Exposição_ MIGUEL BAKUN Casa Andrade Muricy (Al. Dr.

Muricy, 915), (41) 3321-4798. De 3ª a 6ª, das 10 às 19h; sáb. e dom., das 10 às 16h. Para pintar, Miguel Bakun (1909-1963) rumava aos arredores de Curitiba, onde retratava marinhas,

pinheirais, cafezais e fundos de quintal com uma paleta de co­­res que variava entre o amarelo, o azul, o verde e o branco. Tão poucas opções poderiam empobrecer a obra de outros artistas,

mas em Bakun, que se inventou com poucos recursos, em um estado brasileiro isolado das questões artísticas trazidas pelas vanguardas, tornou-se sua força. Por iniciativa da artista Eliane

Prolik, 50 obras do artista nascido em Mallet (PR), ocupam todo o pri­­meiro andar da Casa Andrade Muricy. São telas de pequenas proporções, que exigem do público distanciar-se e

aproximar-se para observar os efeitos das pinceladas convulsas e das diversas espessuras de tinta que formam paisagens caóticas, intrinsecamente relaciona­das ao mundo interior do artista.

(AV)